24/10/10

Amor...

Educacão para o Amor

 ... Os sentimentos tornam-se maus quando, através deles, descobrimos, muito depressa, que as pessoas com quem imaginávamos contar para lhes pormos legendas (e nelas encontrarmos entendimento para nós) se transformam em forças de bloqueio para o nosso coração. Todos os sentimentos que nos desencontram de quem nos ama são maus. E até o amor, se se desacerta de quem amamos, magoa...



...fomos todos mal-educados para a agressividade. 
A agressividade liga o corpo ao pensamento. É tão natural como a sede. Injecta ira ou paixão nos nossos gestos. ... Torna-se lúdica e pró-activa. E ética. E só assim aprendemos a ser agressivos com maneiras... Quando os impulsos são insuflados com fantasias de violência guardam-se mais e transformam-se em rancor. Ou «ódio de estimação», se preferirem. E ele assusta...
Pelo menos nalguns períodos da nossa vida, todos somos aos bocadinhos amigos da violência. Basta que fujamos de a confiar a quem nos lê. (Na maior parte das vezes, tentamos que a violência que se sente de fugida fique, hermeticamente, fechada, dentro de nós. Fechamos o rosto, fechamos os gestos, e até o sorriso se fecha num esgar.) Viver a violência não nos torna odiosos...


...fomos mal-educados para as palavras. 
As palavras engasgam-nos os gestos quando falar devia aplainar o coração. Todos os sentimentos são bons, repito, sobretudo se forem clareados por palavras... falar de forma encriptada, como se bastasse dizer o que sentimos mesmo que ninguém nos entenda, torna-nos amigos da solidão... sentimentos sem palavras são ressentimentos. 

E, finalmente, fomos mal-educados para a imaginação.

Porque nos recomendaram que imaginássemos antes de agir, quando isso é, muitas vezes, uma belíssima forma de complicar. E porque nos sugeriram comedimento nas fantasias como se se imaginasse de cabeça na lua. Imaginar não é agir. E, apesar disso, a vida é sempre mais fácil quando se vive do que quando se imagina. Imaginar será trair? De certo modo, sim. Sobretudo, o melhor de nós. Que só se revela quando se vive.

Porque fomos mal-educados para os sentimentos, para a agressividade, para as palavras e para a imaginação, toda a cor daquilo que sentimos foi ficando pálida e tristonha. Não falamos dos sentimentos. Não dizemos «não» nem nos zangamos sempre que é preciso. E refreamos a imaginação. Estamos mal-educados para a boa educação. E, quando é assim, como se pode amar do coração até à pele?
... É urgente compreender que cada abraço não é um quero-te! mascarado de ternura, e que os sentimentos não se devem guardar fora do alcance das pessoas.

...Só as relações preciosas são frágeis. Só elas, sempre que nos decepcionam, nos matam para o amor. 
 E descobrir que um amor só é amor quando nos diz: sente-me em ti, olha por mim, fala por nós. .

Escrito por Eduardo Sá Sexta, 24 Setembro 2010 

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