19/03/12

António Leitão

António Leitão, antigo atleta do Sport Lisboa e Benfica.
Ontem foi um dia em que o atletismo e o T. D ficaram mais pobres.



António Carlos de Carvalho Nogueira Leitão nasceu na cidade de Espinho, em 22 de Julho de 1960. Para o atletismo tudo começou na escola, onde se destacava nas corridas entre os inúmeros jovens.



Daí a representar o Sporting local foi um pequeno passo, iniciando-se em finais de 1976 no NASCE - Núcleo dos Amigos do Sporting Clube de Espinho. No ano seguinte com 16 anos já estava filiado e a conquistar o campeonato nacional de Juvenis, em corta-mato (1977), seguindo-se o de Juniores, em 1978 e 1979. Também em pista fez valer a sua classe: em 1977, campeão nacional de Juvenis, em 1500 metros e 3000 metros e de Juniores em 5000 metros; em 1978 campeão nacional de Juvenis, em 5000 metros; em 1979, campeão nacional de Juniores, em 3000 metros; e em 1981 campeão de Portugal, em 5000 metros e 3000 metros obstáculos.

Em finais de 1981, após cinco temporadas no SC Espinho ingressa no Benfica.

RECORDISTA NACIONAL NA LÉGUA
Em 1982, logo no 1.º ano a representar o Benfica, conseguiu uma proeza de grande qualidade. Em Rieti, na Itália estabeleceu o recorde nacional dos 5000 metros em 13.07,70, melhorando em 6,90 segundos a anterior marca. Ficou com o 4.º melhor tempo mundial de sempre. Este recorde nacional apenas foi batido em 4,84 segundos pela marca actual, em 1998. Por isso ainda é a segunda melhor marca nacional de sempre. E já lá vão 24 anos!

BRILHAR EM VERONA
No ano seguinte (1983), voltou a conseguir em Itália um excelente resultado, desta vez em Verona. Na IX Taça dos Clubes Campeões Europeus em Atletismo correu os 5000 metros em 13.29,90 estabelecendo o recorde da Taça, que só seria melhorado por 2,03 segundos sete anos depois, em 1990! Revelava mais uma vez a sua capacidade espantosa de surpreender. Quando conseguia sentir-se confiante era praticamente imbatível, podendo conseguir marcas impensáveis!

INESQUECÍVEL 1984
Sempre em crescendo, foi em 1984 que conseguiu o feito mais importante da sua carreira e o contributo mais brilhante de um atleta do "Glorioso" para a representação nacional em Jogos Olímpicos. Em Los Angeles obteve a medalha de bronze, após o 3.º lugar, em 13.09,20 (2.ª melhor marca nacional) numa corrida de 5000 metros de grande nível, uma das melhores de sempre em Jogos Olímpicos! Foi um ano repleto de sucessos, batendo o recorde nacional dos 3000 metros obstáculos e melhorando o da Dupla Milha. Ficou assim na posse simultânea de quatro recordes nacionais, pois já era detentor das melhores marcas nacionais em 5000 metros e na Dupla Milha (ambos desde 1982) e de 3000 metros (desde 1983). Em 1984 sagrou-se ainda campeão regional nos 5000 metros. No ano seguinte (1985) venceu o Regional nos 3000 metros obstáculos.

TUDO OU NADA…
Após tão extraordinários resultados, contando apenas 24 anos, muito se esperava das suas prestações futuras. No entanto poucas vezes conseguiria aproximar-se daquilo que já obtivera. Se até meados dos anos 80 foi um dos atletas mais regulares (mesmo a nível mundial), os últimos anos da sua carreira ficaram marcados pela irregularidade. Em breve, aos problemas físicos resultantes de frequentes lesões, adicionaram-se as dificuldades psicológicas, o que num atleta de alta competição se torna devastador. Passou a "querer mais do que a correr bem" - lutava e não rendia, sentia o valor e não conseguia marcas razoáveis. Esta espiral de descrédito interior - deixar de acreditar – nem permitiu a sua evolução para distâncias mais extensas - 10 000 metros e maratona. Tinha a particularidade de conseguir melhores resultados no estrangeiro que em Portugal. Para além das corridas que venceu no exterior, bateu por cinco vezes recordes nacionais, com quatro a serem obtidos fora de Portugal: 5000 metros (1982 em Rieti), Dupla Milha (1982 e 1984 ambos em Londres) e 3000 metros (1983 em Bruxelas). Mesmo o único recorde nacional batido em território português foi obtido, face a alguns dos melhores especialistas mundiais, numa competição internacional, nos 3000 metros obstáculos disputados no Estádio Nacional, na Westtathletic (com atletas de oito países europeus), em 1984.

EM TODOS OS TERRENOS
Conquistou grandes triunfos em pista, corta-mato e estrada. Na Estafeta Cascais-Lisboa fez parte dos dois quartetos que em 1982 e 1983 conquistaram esta "clássica". Venceu três Corridas de S. Silvestre – no Porto (1982), Amadora (1984) e Madrid (1986). No corta-mato sagrou-se campeão regional em 1989, contribuindo decisivamente para três títulos colectivos, em 1984, 1988 e 1989. Venceu em dois anos consecutivos (1985 e 1986) o Crosse Internacional das Amendoeiras em Flor. Em pista fez parte das grandes equipas que dominaram o atletismo português durante um decénio, contribuindo colectivamente para quatro títulos regionais (em 1982, 1984/85 e 1989) e também para quatro Nacionais (em 1982/83/84 e 1986).

ADEUS ATLETISMO
A incapacidade em ultrapassar as dificuldades, num atleta com grandes potencialidades, mas incapaz de lutar quando sentia que dificilmente podia vencer, levou-o a abandonar a prática desportiva em 1991. Ficou sempre a ideia que se perdera um fundista que poderia ter reescrito a história do atletismo português, bem diferente da actual! Fica a recordação de mesmo sem beneficiar do forte apoio federativo que era canalizado para outros atletas do meio-fundo português, ter conseguido proezas inesquecíveis. Ainda é na actualidade o recordista nacional nos 3000 metros (desde 1983) e nas duas milhas (desde 1982, mas melhorada em 1984), respectivamente há 23 e 24 anos! Aos 31 anos, deixava o atletismo benfiquista após dez anos de ligação ao Clube.

Para o T.D. Beijinhos para ti e para a Cuca

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