Protesto: Jovens continuam acampados no Rossio
"Os jovens que desde a semana passada estão acampados no Rossio a pedir uma mudança no sistema político, na sequência do movimento espanhol conhecido como 15-M, ainda não deram por terminados os protestos.
Cerca de quarenta manifestantes passaram a noite ao relento com cartazes de protesto."Mentes ordinárias, situações precárias" ou "A dívida não é nossa" e "Yes we camp" (Sim, nós acampamos) são algumas das frases que se podem ler nos cartazes."
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Lisboa, Porto e Coimbra têm concentrações marcadas para hoje. Em Madrid milhares continuam acampados na praça Puertas del Sol.
A manifestação de jovens espanhóis, organizada pela plataforma “Democracia Real Já!” já se estendeu a várias cidades europeias, incluindo Lisboa, Porto e Coimbra.Entretanto, o Tribunal Supremo espanhol rejeitou hoje um recurso contra a proibição das manifestações a partir deste sábado (dia de reflexão em Espanha, antes das leições de domingo) decidida pela Junta Eleitoral Central (JEC). Por causa disso, os manifestantes fizeram silêncio enquanto davam as dozes badaladas da torre do relógio do edifício do governo regional de Madrid, que marcou o início de sábado, seguindo um forte grito colectivo: "O povo unido jamais será vencido".
Mais de meia centena de pessoas, a maioria jovens espanhóis e portugueses, esteve concentrada frente a embaixada espanhola em Lisboa a solidarizar-se com o movimento espanhol "Democracia Real Já”, que está espalhar-se por várias cidades europeias. Dirigiram-se depois para o Rossio, gritando palavras de ordem e exibindo cartazes com dizeres como "Acampados por el mundo. Revolución Social."
"Não pagamos a vossa dívida" é palavra de ordem que mais de uma centena de jovens grita, na Praça do Rossio, em Lisboa, aos políticos e grandes bancos, que culpam pelas "más condições de vida" dos jovens.
"O que me trouxe até aqui foi a recusa em pagar uma dívida que não foi contraída pela população, por nós jovens. Todos os planos indicam que muitos dos que aqui estão irão permanecer durante a próxima noite", afirmou Rafael, um dos muitos jovens que se manifestam na Praça Pedro IV, no Rossio.
O jovem português, de 24 anos, desempregado e membro do "Movimento os Precários Inflexíveis", explicou que às 22 horas realizar-se-á "uma assembleia popular para decidir formas de levar a manifestação para a frente".
Sobre se tenciona dormir em pleno centro de Lisboa, tal como acontece na Puerta del Sol, em Madrid, Rafael, que está munido com um saco cama, explicou que se às 22:00 se decidir nesse sentido "certamente" ficará "em solidariedade com todos os outros".
Ao som da música, gritos e cânticos, os jovens de várias nacionalidades afixaram vários cartazes e placares na estátua D.Pedro IV, entre os quais "A Bancos Salvais, A Pobres Roubais".
Também em Rabat estão concentradas cerca de 30 pessoas, maioritariamente jovens espanhóis que residem em Marrocos, em frente ao consulado espanhol da capital marroquina, localizado numa avenida central, exibindo cartazes e entoando frases de apoio às manifestações organizadas pelo movimento "Democracia Real Já", que decorrem há dias em Espanha.
Também no Porto, a praça da Batalha foi o local escolhido hoje por algumas dezenas de jovens que ali se encontram a apoiar as manifestações organizadas em Espanha pelo movimento "Democracia Real Já".
Ainda sem saberem se irão permanecer no local até domingo, à semelhança do que sucede em várias cidades espanholas, garantem que o mais importante é sensibilizar as pessoas a participar ativamente na política.
"Acho que a política está muito desvirtuada pelos próprios políticos em geral", afirmou Anton Peres, 23 anos, estudante de Erasmus em Portugal que desde quarta-feira tem estado na Praça da Batalha, ainda que sem pernoitar.
Hoje, disse, ficará "se mais alguém quiser ficar", apesar de não ter um saco cama ou uma tenda.
Para Laura Martinez, de 22 anos, que tem acompanhado Anton estes últimos dias, "a situação atual que já não é suportável"
"Há muito tempo que estamos todos parados e todos temos que reagir", apela, explicando que este "protesto não é só solidário com o de Espanha" já que "em Portugal a situação é a mesma, e pelas mesmas causas".
Em Bruxelas, cerca de 500 pessoas manifestaram hoje a sua “indignação” em frente à embaixada da Espanha na capital belga, em apoio ao movimento de contestação espanhol que exige uma regeneração da democracia.
Na sua maioria eram jovens espanhóis imigrantes na Bélgica, que demonstraram o seu apoio ao movimento “Democracia Real Já”, com manifestações a decorrer há vários dias em Espanha e que agora, embora em escala menor, se está a espalhar por toda a Europa.
Ouviram-se as mais variadas palavras de ordem, como ‘reforma eleitoral já’, não somos mercadoria nas mãos dos políticos e banqueiros”, ou ainda ‘não só falta o dinheiro como sobram os ladrões’.
Os manifestantes, munidos de tachos e panelas, fizeram um intervalo para ouvir a leitura de um manifesto em que se apelava a “reivindicação de um futuro digno” e uma verdadeira “cidadania”.
Além dos protestos que decorrem há vários dias consecutivos em várias cidades espanholas, estão marcados “acampamentos”, semelhantes ao de Puertas del Sol, em Madrid, para várias capitais da Europa, como Lisboa, Paris, Londres, Roma, Berlim, e também para algumas cidades no continente americano, além das principais localidades espanholas.
Numa das zonas da praça da Puerta del Sol, centro nevrálgico dos protestos espanhóis que duram desde o domingo passado, há um espaço protegido, mantido permanentemente limpo e organizado e onde se congregam os "indignaditos".
Crianças, muitas de colo, encavalitadas nas costas dos pais, sentadas nas ancas das mães ou em carrinhos de bebé que desafiam a multidão de milhares de pessoas para estar onde "se tem que estar" hoje: no "quilómetro zero" de Espanha.
"Não há melhor sitio para estar este fim-de-semana com a família", explica Gregório, com o filho, de quatro anos, às cavalitas, encostado à 'vedação' improvisada com papel e pano que divide a zona reservada aos verdadeiramente jovens neste protesto.
É o recém-estreado "jardim infantil", mais um espaço nesta 'cidade de indignados' que teima em crescer, que já dura há vários dias, que tem energia própria, com painéis solares incluídos; que tem amigos que trazem comida e levam "pen drives" com fotos para colocar nas redes sociais e noutros sítios da Internet.
Na Puerta del Sol há um espaço para aconselhamento jurídico, uma zona para a criação de cartazes e placares reivindicativos, zonas de armazenamento da comida e um centro de recolha de assinaturas para as muitas petições que circulam.
Hoje, entre os jovens, os estudantes, os mais ou menos politizados e os mais ou menos jovens -- são muitos os casais mais velhos que estão nesta praça -- viam-se muitas famílias.
Estas famílias assumem-se como a melhor antítese para os que, em alguma imprensa espanhola mais conservadora, tentam vender a imagem de que o protesto é apenas jovem, de grupos anti-sistema empenhados em perturbar o sistema eleitoral em curso.
Misturam-se entre grupos organizados que debatem questões políticas, económicas, de ambiente, de justiça ou de direitos de género.
Vão explicando, em linguagem de 'puto' conceitos como a reforma da lei eleitoral, porque está tanta gente na Puerta do Sol sem ser ano novo, e porque há tantos aplausos, vivas ou palavras de ordem.
"As crianças têm que ver e ouvir outras coisas", defende Gregório. "Sentia-se um grande inconformismo com o que estava a acontecer e isto tinha que chegar. Já tardava", afirmou.
Aos que criticam os motivos de quem hoje se manifesta, Gregório insiste que "alguns não estão a saber interpretar a força que tem este movimento".
Opinião partilhada por outro pai, Javi, que com a filha ao colo garante que a Puerta del Sol é o espaço de uma reivindicação ampla, que se sente em toda a sociedade.
"É o melhor sítio de todos para estar. E desde pequeno têm que reivindicar também. É o seu futuro que está em jogo. É um sítio pacífico, onde temos que estar. As crianças, os jovens os mais velhos. Todos unidos", afirmou.
"Há que dizer que estamos cansados desta politica de salão, de circo, e que queremos tomar parte no nosso destino. Nós e os nosso filhos, e os seus filhos. Isto tem que mudar. Estamos cansados de ver na televisão políticos a debater o poder, quando o poder é nosso", afirmou.
Segundo o El País, o Movimento 15-M está a mobilizar concentrações em 166 pontos do globo.
Recorde-se que ontem centenas de pessoas pernoitaram na cidade improvisada instalada na madrilena Puerta del Sol, no quinto dia de protesto que dá sinais de não parar apesar de, oficialmente, as concentrações ficarem proibidas desde as 00:00 de sábado.
A cidade improvisada, coberta com toldos, despertou hoje com mais gente do que nas duas últimas noites, mantendo as rotinas de organização e distribuição de tarefas dos últimos dias.
Os manifestantes apelam a uma democracia participativa e querem uma alteração no sistema económico e político do país.
Pelas redes sociais e na própria praça continuam a ser pedidos víveres necessários para o trabalho do dia, neste caso com apelos a gasolina para os geradores e renovados apelos aos vizinhos da zona para que 'emprestem' o acesso às suas redes wifi.
Um ambiente que demonstra algum desafio à decisão da Junta Eleitoral Central (JEC) espanhola que ao final da noite de quinta-feira declarou ilegais todas as mobilizações tanto no sábado, dia de reflexão, como domingo, dia de eleições municipais e regionais em Espanha.
A JEC considerou "contrárias à legislação eleitoral" aquelas "concentrações e reuniões" que decorram a partir das 00:00 de 21 de maio e até ao fim da jornada de votações, no domingo.
Os manifestantes reuniram-se já em duas assembleias para debater a decisão, devendo hoje voltar a faze-lo.
Mas, já esta tarde, a secção do contencioso administrativo do Supremo Tribunal espanhol reuniu-se para estudar o recurso apresentado pela Esquerda Unida (IU) à decisão da Junta Eleitoral Central (JEC) proibir as concentrações em cidades espanholas durante o fim-de-semana.
Elementos do movimento "Democracia Real Já", indicam no entanto que as manifestações e concentrações já assumiram uma natureza espontânea e que nem sequer é feita qualquer convocatória.
Cada cidadão, insiste, decide individualmente se vai ou não às praças das cidades espanholas.
Uma das ações mais inovadoras está a decorrer em Valência onde centenas de pessoas percorrem os escritórios dos bancos no centro da cidade, entrando e sentando-se no chão durante algum tempo.
De um em um, o grupo vai ocupando e desocupando os espaços, mantendo-se em silêncio ou gritando apenas frases que têm sido repetidas nas manifestações: “Pouco pão para tanto chouriço” ou “mãos ao ar, isto é um assalto”.
Autoridades mantêm a ordem
As autoridades policiais espanholas vão garantir o “cumprimento das leis”, na reação às manifestações no país mas não procurarão “resolver um problema criando outros”, afirmou hoje o ministro do Interior espanhol, Alfredo Pérez Rubalcaba.
Rubalcaba, que se escusou a responder diretamente às perguntas dos jornalistas sobre se as manifestações - previstas para várias praças espanholas - serão dispersadas pela polícia, insistiu que as autoridades atuarão respeitando os princípios da “oportunidade, congruência e proporcionalidade”.
“Vamos cumprir o mandato constitucional. Cumprir as leis. Garantir o direito do conjunto dos cidadãos. Veremos os acontecimentos e de acordo como decorram a polícia tomará as decisões”, afirmou.
“A polícia sabe perfeitamente o que tem a fazer. Tem grande experiência. E não vai encontrar nada que não tenha encontrado. Atuará como sempre tem atuado. A polícia, onde há um problema, para o resolver não cria outro, ou dois ou três”, insistiu.
“Estas concentrações têm-se desenvolvido de forma absolutamente pacífica. É bom porque é tranquilizador. O governo o que tem que fazer num suposto como este é dizer aos cidadãos que nada está em risco. As pessoas exercem os seus direitos no marco da lei. É um Estado que funciona bem e onde a polícia atua profissionalmente”, afirmou.
O «número dois» do Governo e ministro do Interior lembrou que “a democracia é essencialmente um conjunto de regras” e que “não há democracia sem cumprimento e respeito da lei”.
retirado de ionline.pt
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